Queridos irmãos e irmãs, bem-vindos!
Dou-vos as boas-vindas, muito feliz por vos encontrar por ocasião do vosso Congresso Mundial.
O oblato beneditino, «no seu ambiente familiar e social, reconhece e acolhe o dom de Deus [...] inspirando o seu próprio caminho de fé nos valores da Santa Regra e da Tradição espiritual monástica»: assim consta no Estatuto [dos Oblatos Beneditinos Italianos ] no art. 2. Penso no vosso carisma e creio que, de algum modo, ele pode ser resumido numa bela expressão de São Bento, que convidava a ter um «coração dilatado pela indizível soberania do amor» (Prólogo da Regra, n. 49).
Que bom: um coração dilatado pela indizível soberania do amor ! Este coração dilatado caracteriza o espírito beneditino, que vivificou a espiritualidade do mundo ocidental e se estendeu a todos os continentes — esta expressão, “coração dilatado”, é muito importante. Ao longo dos séculos, tem sido um carisma portador de graça, porque as suas raízes são tão firmes que a árvore cresce bem, resistindo às intempéries e dando os frutos saborosos do Evangelho. Creio que este coração dilatado é o segredo da grande obra de evangelização que o monaquismo beneditino realiza, e à qual vós vos dedicais como oblatos, “oferecidos” nas pegadas do grande Santo Abade. Gostaria, portanto, de refletir brevemente convosco sobre três aspetos desta “dilatação do coração”: a busca de Deus, a paixão pelo Evangelho e a hospitalidade .
A vida beneditina caracteriza-se, antes de mais, por uma busca constante de Deus , da Sua vontade e das maravilhas que Ele realiza. Esta busca tem lugar, antes de mais, na Palavra, da qual vos alimentais todos os dias na lectio divina . Mas também na contemplação da criação, no deixar-se interpelar pelos acontecimentos quotidianos, no viver o trabalho como oração, até ao ponto de transformar os próprios meios do vosso trabalho em instrumentos de bênção, e finalmente nas pessoas, nos irmãos e irmãs que a Providência vos faz encontrar. Em tudo isto sois chamados a ser buscadores de Deus .
Um segundo traço importante é o da paixão pelo Evangelho. Seguindo o exemplo dos monges, a vida daqueles que se referem a São Bento é de doação, plena, intensa. Como os monges, que recuperam os lugares onde vivem e pontuam os dias com laboriosidade, assim também vós sois chamados a transformar os contextos diários onde viveis, trabalhando como fermento na massa, com competência e responsabilidade, e ao mesmo tempo com mansidão e compaixão. O Concílio Vaticano II delineia de forma eloquente esta paixão missionária quando, falando do papel dos leigos na Igreja, diz que eles são chamados a «procurar o Reino de Deus, tratando das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus [...] a partir de dentro como fermento» (Lumen gentium , 31). Pensemos, neste sentido, no que a presença do monaquismo, com o seu modelo de vida evangélica baseado no ora et labora , com a conversão pacífica e a integração de numerosas populações, constituiu na transição da queda do império romano para o nascimento da sociedade medieval! Todo este zelo nascia da paixão pelo Evangelho, e também este é um tema de grande atualidade para vós. Hoje, de facto, num mundo globalizado, mas fragmentado, apressado, dedicado ao consumismo, em contextos onde as raízes familiares e sociais parecem por vezes quase dissolver-se, não há necessidade de cristãos com o dedo em riste, mas de testemunhas apaixonadas que irradiem o Evangelho “na vida através vida”. E a tentação é sempre esta: passar de “testemunhas cristãs” para “acusadores cristãos”. O acusador é um só: o diabo; não assumamos o papel do diabo, assumamos o papel de Jesus, estejamos na escola de Jesus, das bem-aventuranças.
A terceira caraterística da tradição beneditina sobre o qual me debruço é a hospitalidade . Na Regra , São Bento dedica-lhe um capítulo inteiro (cf. Capítulo LIII: Acolhimento dos hóspedes ), que começa com estas palavras: «Todos os hóspedes que vêm ao mosteiro devem ser acolhidos como Cristo, porque um dia dirá: “Fui hóspede e tu recebeste-me” (Mt 25,35)» (n. 1). Venit hospes, venit Christus . E prossegue especificando algumas atitudes concretas a assumir em relação aos hóspedes por parte de toda a comunidade: «Ide ao seu encontro, manifestando-lhe o seu amor de todas as maneiras; [...] rezai juntos e depois entrai em comunhão com ele, trocando a paz» (n. 3), ou seja, partilhai com ele o que tendes de mais precioso. E depois Bento fala também de quem são os hóspedes “de consideração”, dizendo: «Especialmente os pobres e os peregrinos devem ser recebidos com toda a consideração e cuidado possíveis, porque é precisamente neles que Cristo é recebido de modo muito especial» (n. 15): os pobres e os peregrinos. Como Oblatos, o vosso grande mosteiro é o mundo, a cidade, o local de trabalho, e aí sois chamados a ser modelos de acolhimento no respeito por aqueles que batem à vossa porta e na preferência pelos pobres. Acolher é isto: a tentação é fechar-se, e hoje, na nossa civilização, na nossa cultura, mesmo cristã, uma das formas de nos fecharmos é a tagarelice que “suja” os outros: “Fecho-me porque este é um miserável...”. Por favor, como beneditinos, deixem que a vossa língua sirva para louvar a Deus, não para tagarelar sobre os outros. Se fizerdes a reforma de vida de nunca falar mal dos outros, tereis aberta a porta para a vossa causa de canonização! Em frente assim. Às vezes, parece que a nossa sociedade sufoca lentamente nos cofres fechados do egoísmo, do individualismo e da indiferença, e a tagarelice fecha-nos nisto...
Queridos irmãos e irmãs, desejo bendizer convosco o Senhor pela grande herança de santidade e de sabedoria de que sois depositários, e convido-vos a continuar a dilatar o coração e a entregá-lo todos os dias ao amor de Deus, sem cessar de o procurar , de o testemunhar com paixão e de o acolher nos mais pobres que a vida vos faz encontrar. Agradeço-vos de coração a vossa oblação e, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!