São João Paulo II (1920-2005), papa
Homilia em Núrsia, Itália, 23/03/80
São Bento soube interpretar com perspicácia e de modo seguro os sinais dos
seus tempos quando escreveu a sua Regra, na qual a união da oração e do
trabalho se tornava, para aqueles que a aceitassem, o princípio da
aspiração à eternidade: «ora et labora», reza e trabalha. [...] Lendo os
sinais dos tempos, Bento viu que era necessário realizar o programa radical
da santidade evangélica [...] numa forma ordinária, nas dimensões da vida
quotidiana de todos os homens. Era necessário que o heróico se tornasse
normal, quotidiano, e que o normal, o quotidiano, se tornasse heróico. Deste
modo, o pai dos monges, o legislador da vida monástica no Ocidente, tornou-se
também o pioneiro de nova civilização. Onde quer que o trabalho humano
condicionasse o desenvolvimento da cultura, da economia e da vida social, aí
chegava o programa beneditino da evangelização, que unia o trabalho à
oração e a oração ao trabalho. [...]
São Bento é o patrono da Europa nesta nossa época. E é-o, não só em consideração dos seus méritos particulares para com este continente, a sua história e a sua civilização, mas também se consideramos a nova atualidade da sua figura perante a Europa contemporânea. Pode-se apartar o trabalho da oração e fazer daquele a dimensão única da existência humana. A época contemporânea traz consigo essa tendência. [...] Tem-se a impressão de que a economia domina a moral, de que a temporalidade domina a espiritualidade. Por um lado, a orientação quase exclusiva para o consumismo dos bens materiais tira à vida humana o sentido que lhe é mais profundo. Por outro lado, o trabalho está-se a tornar, em muitos casos, um constrangimento alienante para o homem que, submetido aos coletivismos e quase sem querer, se aparta da oração, tirando à vida humana a sua dimensão ultratemporal. [...]
Não se pode viver para o futuro sem reconhecer que o sentido da vida é maior que aquilo que é temporal e passageiro, que este sentido está acima deste mundo. Se as sociedades e os homens do nosso continente perderam o interesse por este sentido, devem reencontrá-lo. [...] Se o meu predecessor Paulo VI chamou São Bento de Núrsia para ser o patrono da Europa, é porque ele poderá ajudar a Igreja e às nações da Europa a realizarem este objetivo.
São Bento é o patrono da Europa nesta nossa época. E é-o, não só em consideração dos seus méritos particulares para com este continente, a sua história e a sua civilização, mas também se consideramos a nova atualidade da sua figura perante a Europa contemporânea. Pode-se apartar o trabalho da oração e fazer daquele a dimensão única da existência humana. A época contemporânea traz consigo essa tendência. [...] Tem-se a impressão de que a economia domina a moral, de que a temporalidade domina a espiritualidade. Por um lado, a orientação quase exclusiva para o consumismo dos bens materiais tira à vida humana o sentido que lhe é mais profundo. Por outro lado, o trabalho está-se a tornar, em muitos casos, um constrangimento alienante para o homem que, submetido aos coletivismos e quase sem querer, se aparta da oração, tirando à vida humana a sua dimensão ultratemporal. [...]
Não se pode viver para o futuro sem reconhecer que o sentido da vida é maior que aquilo que é temporal e passageiro, que este sentido está acima deste mundo. Se as sociedades e os homens do nosso continente perderam o interesse por este sentido, devem reencontrá-lo. [...] Se o meu predecessor Paulo VI chamou São Bento de Núrsia para ser o patrono da Europa, é porque ele poderá ajudar a Igreja e às nações da Europa a realizarem este objetivo.